quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Um Assunto Deveras Pertinente

   


A Superficialidade na Era da Informação


    Apesar de estarmos no século XXI, com acesso a internet, diversas mídias e plataformas que deveriam nos auxiliar no nosso aprendizado diário, nos afastando dos supérfluos do mundo das futilidades e nos aproximando de uma forma mais crítica de lidar com nosso entorno, as pessoas ainda vivem dessas superficialidades e parecem completamente alheias a realidade, bem como fazia-se antigamente, quando a reputação, a riqueza e o poder advindo do dinheiro eram mais importantes que a felicidade genuína e a sabedoria contida na empatia para com todos.

    As pessoas buscam, de uma forma inconsequente e incessante, mostrar muito mais do que são ou do que tem, como se fossem personagens vivendo num mundo paralelo e nos dando um gostinho de como é esse lugar tão distante e feliz. Só que vivem num mundo fabuloso que não existe em suas realidades. A reputação e a vontade de mantê-la, passando essa imagem de perfeição, luxo, glamour e felicidade plena, tornou-se uma doença. Por frustração em não ser quem realmente fingem ser, por inveja de ver outra pessoa com tudo aquilo que essas pessoas queriam ter ou viver, elas se deprimem e, por obra desse frívolo exibir de uma vida fantástica, acabam caindo nas garras da depressão, mesmo desenhando um sorriso, clicando na tela e filmando alguns segundos de alegria e elegância enquanto dizem frases motivacionais como "se eu cheguei aqui, você também pode", "veja como tudo é lindo aqui, você quer?" e "se você se esforçar como eu, um dia você terá tudo isso e muito mais", apesar de nem mesmo acreditar nisso.

    Já vi gente deixando de comer melhor, de fazer obras básicas ou até bem necessárias em casa, de resolver problemas e pagar contas, tudo para comprar o "sonho de consumo do momento" e poder passar essa imagem de hippie rico. Objetos como: perfumes importados, produtos de beleza daqueles que passam dos três dígitos facilmente e são usados por celebridades, toca-discos (mesmo que a pessoa nem tenha vinil para ouvir), roupas de marca da moda e principalmente os caríssimos iPhones da Apple (que às vezes pode até ser um produto usado, desde que a pessoa possa dizer que tem e que faz parte do clube da maçã), bem como seus fones sem fio e relógios de pulso inteligentes.

    Não estou querendo dizer que as pessoas não devam realizar seus sonhos de consumismo mas, nesse caso, existe uma necessidade de suprir a carência que a falta de diversas coisas no dia-a-dia traz (como a falta de uma companhia para conversar, por exemplo), fazendo surgir essa vontade de mostrar que os bens materiais trarão uma alegria onde não se encontra em lugar algum, como se para ser alguém valorizado, alegre e interessante você precise mostrar um nível de luxos desnecessários que, infelizmente, tomarão uma prioridade na sua vida que fugirá ao seu controle se você se deixar levar.
       
    Tais pessoas dão essa prioridade ao que elas podem exibir nas redes sociais, ostentar, e não ao que elas precisam de fato ter ou fazer, como ter em dia a manutenção do ambiente onde vivem, quitar dividas e outras responsabilidades. Para essas pessoas, não importa o que elas estão vivendo, mas sim o que o mundo pensa que elas vivem.

    Viajam para lindos lugares no maior sufoco para fazer as mais maravilhantes postagens dizendo e mostrando como la vie est belle, enquanto, escondidos das câmeras e textos inspiradores, a realidade vai desmoronando ao redor e tudo está caótico. Mas o que os olhos não veem, o coração não sente, não é?

    Errado! Seu coração sente, e muito! E seu cérebro também. Você pode tentar enganar a todos o quanto você quiser, pode se atolar para ostentar uma realidade que não te pertence e se convencer de seguir aquela máxima que diz "seja quem você quer ser". E digo mais, todos podemos ser quem quisermos ser, porém isso depende muito do caminho a ser tomado para tal. Sem contar que muitas dessas pessoas, que tendem a "inspirar" com seus estilos de vida "autênticos", fazem uso de artifícios como patrocinadores, ângulo, edição de imagem, e outras coisas mais, apenas para transmitir esse ar de mundo utópico e perfeito,  fazendo os mais iludidos acreditarem que elas estão num lugar onde os problemas são inexistentes e a felicidade é quem reina e comanda.

  • Você está sendo quem você quer ser PARA VOCÊ ou faz isso PARA O MUNDO enquanto esconde quem é de verdade?
  • A sua felicidade é real ou você força situações para alimentar o exibicionismo pertinente a reputação de mostrar ter dias incríveis?
  • Você é você mesmo, ou está agindo de forma a se encaixar no que as pessoas querem ser, para se tornar alguém invejável, como as pessoas que você sente inveja e tenta imitar? 
  • Sua rotina é real ou montada para satisfazer a personalidade que decidiu apresentar em suas redes?
  • Você é feliz assim?


    Se você estiver duvidando de si mesmo com essas perguntas, algo não está certo nisso e provavelmente você já sabia antes de ler essa postagem.

    E que tal dar um tempo das redes e focar, de verdade, em si mesmo? Fazer coisas que realmente te dão prazer e felicidade, resolver seus problemas ou, ao menos, se organizar? Comece pelo básico, como uma caminhada ao pôr-do-sol apenas ouvindo suas músicas favoritas em seus fones. Se conecte consigo, dê esse momento para si.

Você vai sentir a diferença.


    A vida não é um filme onde tudo se resolve num estalar de dedos, ou um jogo onde com alguns truques o seu personagem vai ser feliz o tempo inteiro. Você tem que se sentar e pensar, planejar, colocar as coisas no lugar e por em prática um passo de cada vez, e lembrar que as emoções boas são tão importantes quanto as ruins e que não se pode viver sem elas.

Lembre-se: a vida não é uma pintura Rococó.


Resultado de imagem para rococó
O Balanço (1767), Fragonard

A Arte Rococó, que primeiramente desenvolveu-se na França no século XVIII,
refletia os valores de uma sociedade fútil que buscava nas obras de arte algo
que lhes desse prazer e os levasse a esquecer de seus problemas reais.

    E do que adianta viver suas experiências se ninguém sabe que você as está vivendo? Adianta tudo! Ao invés de pensar em quantas fotos e vídeos vai fazer, qual filtro vai usar ou qual legenda vai inserir, apenas deixe o momento fluir e aproveite cada segundo sem pensar nos likes. Não tente mostrar ao mundo algo que está ali só pra você viver, tentando provar que seus dias são muito interessantes e todos deviam saber disso, apenas viva!

    Dá curiosidade ver o que os outros estão fazendo, você já se acostumou a viver a vida deles pela tela do celular, mas quando você perceber que a sua vida só pode ser vivida por você e que, se estiver infeliz, com problemas e tudo mais, só você pode começar a se ajudar e que fingir ser outra pessoa para o mundo não vai resolver tudo, então as coisas vão começar a entrar no eixo.

Uma hora você vai se encontrar.


    Mas você, e só você, pode dar o passo inicial para ser quem você quer ser. Eu sei que você quer ser uma pessoa feliz, você também sabe. Só estava olhando para a tela do celular e vendo a vida dos outros, ao invés de olhar no espelho e ver a si mesmo.

    Se olhe, veja o que você já tem, o que você quer ter, o que você pode melhorar e o que já está no lugar certo. Viva sua vida por você, não pelo mundo superficial de reputações e ostentações que ainda insiste em se manter forte mesmo na Era da Informação.

C.A. Universe, 28 Nov. 2018.